A geração dos 30s e as anteriores deviam pedir uma indeminização por danos mentais. Somos potenciais psicopatas por termos sido expostos a demasiada mudança em tão pouco tempo. Senão vejamos: Vivemos um boa parte da nossa vida a pagar com outra moeda, procurando informação nas enciclopédias e dicionários, escreviamos em diários de papel. Quando queriamos ligar a alguém e não estavamos em casa a solução era a cabine. Crescemos a ouvir música, mas cheios de cuidados para não riscar o vinil. Esfolávamos os joelhos a jogar à apanhada, cuspiamos na ferida, limpavamos a terra com punho da kispo e continuavamos a correr.
Não tinhamos euros, multibanco, telemóveis ou internet. Não tinhamos o google, os mp4, a wikipedia ou consolas.
Esta situação ocorreu-me hoje: depois de meses, ver a criança fixada nos nossos álbuns de família, a apontar a mamã, o papá, o titio, a vovó e o cão... e eis que pergunta indignada, encolhendo os ombros e abrindo as mãos: "a Teté ontá?" (a bebé, onde está?). Arrepiei-me e pensei: quando é que fiz o último back up das minhas pastas pessoais? As fotos dela... as fotos dela estão num local virtual, sob uma lei binária de 0s e 1s, que eu não controlo.
E só mais outra coisinha: que me levem o escudo, o walkie talkie ou descontinuem a farinha Pensal eu até aceito, o que não aceito é que venham agora pedir-me para escrever a minha língua sem cês e pês ocultos. Isso é que não. Aqui vai continuar a escrever-se num português que amanhã será obsoleto.