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quarta-feira

Cansaço de grávida...

Ainda falta algum tempo para nascer a Catarina e eu já estou completamente exausta. Não consigo dormir à noite por causa das dores nas costas, da azia, das cãimbras, do xixi, não consigo fazer praticamente nada sem errar, sujo-me de cada vez que como, e outro dia ia pegando fogo à cozinha... enfim, para uma rapariga que tinha a mania do "tudo perfeito" estes são tempos verdadeiramente inglórios. Dou comigo a chorar de cada vez que tenho de virar-me na cama ou a ficar profundamente deprimida diante de um lanço de escadas. Ainda não estou de baixa. Por um lado acho que a minha médica particular decidiu castigar-me pelos 16 quilos, por outro o meu patrão só agora autorizou uma solução para a minha ausência... creio que ele acha o máximo que me rebentem as águas durante a preparação de um press kit ou uma entrevista para um jornal. Assim, espera-me, pelo menos mais uma semana de trabalho e eu sinceramente não sei como vou conseguir.
A ajudar às dificuldades continuo na minha saga com o Serviço Nacional de Saúde, mais especificamente no Centro de Saúde de Cascais. Nunca tive seguro e como sou uma boa pagadora de impostos para mim era claro que o centro de saúde era a solução. Depressa me apercebi que era impossível para uma trabalhadora normal como eu. As consultas são sempre em horário impossível de conciliar com o trabalho, as marcações feitas de nada valem... nunca somos atendidos na hora prevista; Se ultrapassamos em cinco minutos a hora marcada, ficamos para o fim e a mim chegou a acontecer-me ficar para o fim (esperei toda a manhã) para me dizerem que não me conseguiam atender nesse dia tinha de voltar na próxima semana. Nesse dia decidi que não voltaria ao CSC e procurei uma médica particular. Mais tarde quis pedir a credencial para o Rastreio bioquímico... ninguém ma queria passar e não percebiam a razão da minha solicitação. Disseram-me que não era consultada há muito tempo e que para além disso esse exame não era obrigatório. Foi preciso pedir o livro de reclamações para lá me passarem com o meu médico, o Dr. Abel Abejas. Este fez o favor de me dizer que me passava o rastreio, mas que não concordava com o facto de eu o fazer, pois se os índices viessem alterados eu voltaria para pedir uma amiocintese... "e imagine, Vanessa se todas as grávidas deste centro se pusessem a pedir o rastreio... o que seria...". Debati com ele o meu direito de querer fazer todos os exames disponíveis e a conversa foi até um pouco acesa ao ponto de ele me dizer que era contra o aborto. Pronto, estava explicada a razão porque não se passam normalmente os rastreios Bioquimicos em Cascais (exame fundamental para detectar algumas trissomias). Nesse dia rocei a mal-educada e disse-lhe que ele era livre de ter a sua opinião, mas que essa não podia colidir com o bem-estar e as liberdades da comunidade e perguntei-lhe se ele tinha passado o rastreio à jovem mãe que acabava de sair da consulta com um bebé com um problema de mal-formação notório. Hoje voltei ao centro de saúde para pedir as credenciais dos exames do terceiro trimestre, já que preciso de fazer as análises amanhã sem falta. Depois de ter tentado ligar para o meu módulo de atendimento e ninguém me ter atendido, procurei na internet o horário das consultas. Hoje às 13 horas lá estava eu e o meu marido no CSC à procura do Dr. Abel Abejas pelos módulos de atendimento, pois logo à entrada mandaram-me para um diferente do habitual e diferente da informação da net. Pouco depois foi-nos dito que o Dr. Abel já tinha dado consultas durante a manhã e que não me podiam ajudar. Eu expliqei que a informação da net me tinha induzido em erro e que na verdade não precisava de uma consulta apenas precisava que um médico, o dr. Abel ou outro, do CSC me passasse as credenciais, hoje, pois amanhã termina o prazo para as fazer. Obviamente aquela gente não tem ideia do que é trabalhar numa empresa... se eu tivesse conseguido ir uma semana antes teria ido. Só depois de voltarmos a pedir o livro de reclamações a situação começou a ver contornos de solução. Deparamo-nos no entanto com várias pessoas que respondendo guiões e frases feitas não têm um pingo de respeito pelo contribuinte, muito menos por uma mulher grávida. Desde que estou grávida não consegui tratar de nada ali sem ter de pedir o livro de reclamações, sem me encher de nervos, sem me sentir uma freak por pedir coisas que as outras mulheres não pedem, mas que todas temos direito. É óbvio que o sistema está feito para que pessoas como eu não usufruam dos seus direitos. Se tivesse sido seguida ali, muito provavelmente o meu despedimento já estaria a ser considerado. Ficam algumas perguntas: Quantas crianças com mal-formações vão ter de nascer no conselho de Cascais, sem que a mãe tenha a oportunidade de decidir ou considerar as opções? Uma grávida, quantos dias tem de faltar ao trabalho e sofrer as retaliações da empresa, porque os serviços não funcionam? Porque razão as ecografias feitas através do estado demoram 10 minutos e as feitas particularmente demoram uma hora? Quanto tempo mais vamos descontar para um estado que não cuida de nós?

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