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terça-feira

O dia mais curto


Há 20 posts atrás eu escrevia sobre o dia mais longo. Escrevia sobre um recomeço emocionado, um passo em frente, com outra música.
Aquele passo foi enorme, tão grande que pareceu uma música que não acabava como se estivesse em repeat. Olhando para lá, é com comoção que me vejo naquele dia. Comoção do verbo comover (para quem fala mal português) como me comovem outras tantas coisas.

Comovem-me as coroas de flores depositadas nos rails das estradas e nos postes de iluminação.
Comove-me a soberba, nas pessoas medíocres.
Comovem-me os guarda-chuvas partidos e abandonados no passeio molhado.

Comovem-me os homens de Porche.
Comovem-me os discos riscados e os estores partidos.

Comovem-me os que, acompanhados, estão sempre sós.
Comovem-me os caracóis varridos, no chão do cabeleireiro.
Comovem-me os dogmáticos e os químico-dependentes.
Comovem-me os circos e os canis de cães.

Comovem-me os que almoçam fora, sozinhos.

Desde o dia mais longo até cá, tive de fazer um fast-forward e hoje sou tão completa, feliz e melhor.

Ah, comovem-me também os discos que nunca mais vão passar na rádio e os formatos que não vão ver luzes, nem camera, nem acção.

Hoje é o solistício. Depois de vários meses, amanhã, os dias voltam a crescer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem reflectido, ainda que seja relativo a algo que não sabemos o que é.

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